Gente, quero compartilhar com vocês a relação de amor - e ódio, mas o amor prevalece - que aprendi a ter com a cidade de São Paulo.
O título do post é uma bela definição para São Paulo, celebrada por Caetano Veloso na música "Sampa", de 1978. Vamos lá, com a letra e o link do vídeo no Youtube.
Sampa
Caetano Veloso
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-América das Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mas possível novo quilombo de Zumbi
E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
http://www.youtube.com/watch?v=i0KRUGGajto
Encararei essa bela canção como um relato de alguém que está chegando nessa selva de concreto, mais conhecida como São Paulo. Farei, com base nessa música, o meu próprio relato, mesmo porque, na minha opinião, ela é tão perfeita que dispensa meus comentários!
Sampa é um paradoxo: consegue ser tanto encantadora quanto assustadora. A cidade não me era de todo desconhecida. Pelo menos, era nisso que eu acreditava até precisar me mudar pra cá. A aprovação do vestibular da USP me trouxe pra esse mundo paralelo que é a capital paulista. Eu me lembro daquele ano de 2009 como se fosse ontem: Não parava de chorar! Sampa me engoliu! Metrô? Ônibus circular? USP? E encontrar a moradia então? O maior dos obstáculos até hoje, sem dúvida. Claro que bateu o desespero! Realidade bastante bagunçada pra quem vem de uma pacata cidade do interior paulista...
E eu cheguei aqui parecendo um bichinho assustado! Hoje rio quando me lembro dos meus chororôs iniciais. Claro que é extremamente complicado sair da casa dos pais, principalmente quando se é a filha caçula, mas ainda não tinha a dimensão da minha escolha. Chegando aqui me deparei com um jeito diferente de viver. E com ele, meus medos vieram à tona. Não andava a pé, muito menos à noite. Nem acompanhada, acreditem! Atravessava as ruas trêmula, com medo de todas as pessoas daqui. Sim, eu tinha medo de gente! E as pessoas dessa cidade andam sem olhar para ninguém: Ou estão no celular, trabalhando na maior parte das vezes, ou olham para o chão e ouvem música em seus fones de ouvido e passam por mim quase correndo: Paulistano tem pressa!
Até que fui aprendendo a gostar. Descobri uns pedacinhos muito queridos dessa cidade, dois deles, conto a vocês. Em primeiro lugar, a USP. Ah, como eu me sinto em casa dentro da Cidade Universitária! Local da minha graduação e do meu primeiro emprego. Claro que há imensos problemas por lá... Mas minha paixão não se abala!
Depois, Avenida Paulista. Que lugar incrível! A primeira vez que por lá andei sozinha parecia que tinha mergulhado em outro mundo. Milhões de pessoas entrando e saindo das estações de metrô, dos ônibus, dos carros, cruzando a avenida. Coisa de louco! Mas eu me sinto bem andando por lá! O amor pela Paulista aumenta muito na época do Natal. A cada ano que passa aquele lugar fica mais belo com os adornos natalinos. E eu adoro luzes e cores, principalmente quando elas surgem no meio de uma cidade cinza. Outro paradoxo: Mesmo sendo eternamente cinza, São Paulo tem belíssimos dias coloridos.
Gradativamente me adaptei à nova realidade. Fui percebendo que as diferenças sociais por aqui são gritantes, até mesmo revoltantes. Vivemos num contraste entre os extremamente ricos e os miseravelmente pobres. É óbvio que sou afetada por esses problemas. Afinal chego da casa dos meus pais em plena segunda-feira às oito da manhã. E o metrô daquele jeito... É muito difícil ficar no trânsito em épocas de chuva, por exemplo. Eu falo pras pessoas que em Sampa deveria ser proibido chover! Meu Deus, dez minutos de chuva que sejam, pronto! O caos se instala. E aqueles que levariam meia hora pra chegar em casa acabam chegando duas horas depois... Também acho difícil estar cercada de pessoas e sentir-me só, muitas vezes. Para mim, o paradoxo mais dolorido.
Por aqui experimentei uma grande diferença na relação tempo/espaço: O "pertinho" aqui não leva cinco minutinhos pra eu atingir não, como ocorre em Capivari, minha cidade. "Pertinho" aqui leva meia hora! Bizarro, né? Hoje já estou acostumada. Já me viro sozinha, de dia, de noite, aqui no "meu pedaço". Nem poderia ser diferente. O ser humano evolui e se adapta a muitas realidades. Apesar dos incomensuráveis problemas da cidade (trânsito, poluição, falta de transporte público, preço exponencialmente elevado de TUDO), aprendi a ver um lado interessantíssimo dessa cidade: Ela respira cultura! Cultura, intelectual, musical, gastronômica... Aqui encontram-se italianos, japoneses, árabes, chineses, judeus, coreanos e pessoas de todas as regiões do Brasil. Taí outro paradoxo: Já não cabe uma agulha na cidade, mas ela sempre recebe mais um morador.
Como pessoa, cresci muito vivendo em Sampa. Aqui aprendi a ter ainda mais iniciativa pra fazer as coisas, a otimizar meu tempo, questão muito importante, pra qual eu não ligava muito, e a usar meu dinheiro de um jeito mais responsável. Também aprendi a conviver com amigos, pois moro numa república, mas esse é assunto de outro post. Sei que essa cidade ainda tem muito a me ensinar e quero aprender cada vez mais com ela. Não posso afirmar que conheço São Paulo. Mas com certeza aprendi a viver por aqui.
Gostei de contar a vocês um pouquinho da minha história! Beijos, queridos leitores! E ouçam Caetano, sempre!
Lindo post e linda música, prima! Parabéns! =*
ResponderExcluirJu, obrigada! Esse, até agora, foi o meu post preferido! Ahh, eu me lembrei bastante de você e de sua família, quando a gente vinha visitá-los aqui... Beijos cheios de saudade, prima!
ExcluirVocê diz que paulistano tem pressa porque nunca andou pela Vila Olímpia no horário de almoço, prima! Hahahah
ResponderExcluirHAHAHAHA Realmente nunca tive essa experiência... Como é?
ExcluirESSE BLOG É SUCESSO. eu que só vou a São Paulo pra passear já fico atordoada, imagine morar. Mas é uma cidade que em cada metro dela tem uma história pra contar.... parece que estou em outro pais, muitos tribos, muito comportamentos diferentes... parece que todo mundo é "alternativo". e as comidas???? ahhhh quanta coisa boaaaa.... só falta uma coisa pra me sentir realizada... será um paradoxo? PRECISO CONHECER A CRACOLÂNDIA... claro em caráter profissional.
ResponderExcluirÉ, Ce, quando você não vive aqui, cada vez que vem passear, é essa loucura. Tudo por aqui nos espanta! Realmente aqui é a terra das tribos, cada um a seu estilo. Claro que há a ignorância do preconceito, o ser humano não consegue coexistir com seu semelhante quando ele é e pensa de um jeito diferente.
ExcluirBastante paradoxal o seu sonho, com certeza! Cracolândia, segundo noticiários, está desativada, mas o grande problema social que se instalou ali permanece vivo! Os moradores de lá estão se deslocando para outros bairros e construções abandonadas, espalhando ainda mais o crack. Essa é a grande mazela do Brasil, na minha opinião. Mas pra você, que trabalha cuidando de pessoas doentes desses vícios, sem dúvida seria uma grande experiência!
Beijo grandão pra você, leitora-irmã!
Oi Larinha!!! muito legal o relato da sua história com S.Paulo...meu adorável S.Paulo! Sou muito grata a ele, por tudo que conquistei até hoje. Afinal foi aí que aos meus 15 anos,começou a historia de minha vida, tanto profissional, como intelectual.
ExcluirConfesso que a única coisa que eu me chateio com Sampa, é o trânsito infernal que tira qualquer um do sério...fora isso ele é lindo, maravilhoso!!! mesmo nos dias de chuva...Beijão Lara.
Oii tia linda! Sim, você também tem ótimas histórias pra contar daqui de Sampa, né?! Toda vez que passo na frente da Ericsson me lembro de você!
ExcluirA gente aprendeu a ver a beleza em meio aos problemas, você tem razão.
Beijo grande!
sempre que passo na frente da Ericsson lembro da tia Leda também, hahah. ;)
ExcluirPrima, a Vila Olímpia é assim: um monte de executivo ricaço, que pode passar horas no "horário de almoço", caminhando sempre em grupo na MAIOR LERDEZA do mundo e ocupando a calçada toda! E você, que é apressada e só pode fazer uma hora de almoço (você=eu), tem que andar no meio da rua para não ficar presa entre um grupo lerdo e outro. É o inferno, hahah. =P
ResponderExcluirÉ... Exatamente como imaginei! Mas o detalhe dos ricaços que ocupam calçadas inteiras é o que deixa tudo mais irritante, não é?! HAHAHAHAHA
ExcluirBeijo grande, minha linda!
COM CERTEZA! Hahah
ExcluirBeijão!
Não sei pq, mas morro de vontade de conhecer o bairro Armênia ao lado do tietê... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk pq será? sempre me chamou atenção
ResponderExcluir"Aracy Blanblanblan" --> Esse nome te diz alguma coisa, Céci? HAHAHAHAHA
Excluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk mas não é isso Laraaa..... tem algo diferente ai que me faz querer conhecer esse bairro kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirQuem sabe, hein?! Pode rolar uma identificação de outras vidas... Quando você voltar aqui, podemos dar umas voltinhas por lá, o que acha?
Excluiracho ótimooooooooooo
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