quinta-feira, 28 de junho de 2012

"Era noite de São João..."




Leitores que me acompanham... Mais uma vez peço perdão pela demora dos posts... Vocês sabem... Fim de semestre é uma loucura desenfreada! Finalmente ele acabou, agora aguardo as notas. Desejem-me - boa - sorte!

Sim, o São João já passou. Mas não tem como não falar desse dia tão importante e festivo para o Brasil! Festas juninas, de maneira geral, são comemorações que agradam a todas as pessoas de todas as idades, vocês já repararam nisso? Em nosso país, que adora uma festa, cidades nordestinas param e realizam as maiores festas juninas do planeta! Um dia ainda passarei o São João em Campina Grande ou Caruaru... Que sonho! Mas enquanto não posso realizá-lo, sexta-feira vou pra festa junina da minha faculdade mesmo, que também é sucesso!

Vocês imaginam que escolhi uma canção nordestina para celebrar a data, certo? Errado! Hoje vamos lá pro Rio Grande do Sul, Pelotas, cidade de Kleiton e Kledir, dupla incrível que também conheci com meus pais. A música "Noite de São João" de 1981 é muito... Fofa! Acho que esse é o melhor adjetivo para defini-la. Executada em piano, não há como ser diferente, não é?


Noite de São João


Era noite de São João
E eu saía com meu irmão
De bigode de rolha
E chapéu novo em folha
Brim coringa e alpargata


Toda noite de São João
Eu sonhava em pegar na mão
De uma prenda bonita
Um vestido de chita
E maria-chiquinha


Soltando foguetchê
Pulando fogueirá
Era noite de São João


Toda noite de São João
A quermesse era um festão
Bandeirinhas no arame
De papel celofane
Pau de sebo e de fita


Era noite de São João
E depois de comer pinhão
Vinha pé-de-moleque
Puxa-puxa e um pileque
De caninha ou de quentão


Soltando foguetchê
Pulando fogueirá
Era noite de São João


Era noite de São João
Cordeona com violão
Esquentavam as moça
E eu nesse bate-coxa
Não podia me segurar


Toda noite de São João
Eu voava que nem balão
Namorava as estrelas
Que são primas terceiras
E afilhadas de São João


Soltando foguetchê
Pulando fogueirá
Era noite de São João


http://www.youtube.com/watch?v=bAOle-FM3tc


Escolhi a versão do DVD ao vivo. O público participa bastante da canção... Mas não mais do que o pessoal da minha casa quando assistimos ao DVD! Pai, mãe, tios, irmãos, primos... Todo mundo sai cantando! Divertidíssimo!

Essa atmosfera de festa junina remete à infância. Não é à toa que os verbos da música estão no pretérito imperfeito: Naquele tempo, "a quermesse era um festão"... Essa utilização  marca as lembranças de um tempo que já se passou, mas que permanece vivo na memória. Confesso que também tenho mil lembranças: Os ensaios in-ter-mi-ná-veis da quadrilha (todo mundo já nasce sabendo dançar quadrilha... Mas se a gente faz direitinho na escola, não consegue matar a próxima aula! Quem nunca adiou os ensaios no colégio?),  correio elegante (quanta ansiedade pra receber um bilhetinho), pescaria, jogos... Que delícia!!!! Festa junina é festa boa pra gente comer todas aquelas comidas típicas... E beber também, afinal está tão frio... Vinho quente e quentão caem muitíssimo bem!

Acho que temos que valorizar a cultura do Brasil. Festa junina é geralmente associada ao Nordeste, mas foi justamente por isso que trouxe pra vocês uma música gaúcha... As doces memórias das noites de São João se espalham por nossas terras de norte a sul.

Beijão bem caipira procês! 'Té a próxima!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"E 'praquele' que provar que eu tô mentindo, eu tiro o meu chapéu"

Ah, Raul... Que gênio, que voz, (que sotaque baiano lindo), que compositor. "Eu nasci há dez mil anos atrás", de 1976, é de sua autoria em parceria com Paulo Coelho. O link do vídeo é do clipe oficial.


Eu nasci há dez mil anos atrás


Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história que era mais ou menos assim:


Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais


Eu vi Cristo ser crucificado
O amor nascer e ser assassinado
Eu vi as bruxas pegando fogo
pra pagarem seus pecados
Eu vi
Eu vi Moisés cruzar o Mar Vermelho
Vi Maomé cair na terra de joelhos
Eu vi Pedro negar Cristo por três vezes
diante do espelho


Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais


Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi Conde Drácula sugando o sangue novo
e se esconder atrás da capa
Eu vi
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seu salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros pra floresta
pro Quilombo dos Palmares
Eu vi


Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais


Eu vi o sangue que corria da montanha
quando Hitler chamou toda a Alemanha
Vi o soldado que sonhava com a amada
numa cama de campanha
Eu li
Eu li os símbolos sagrados de Umbanda
Eu fui criança pra poder dançar ciranda
E quando todos praguejavam contra o frio
Eu fiz a cama na varanda


Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais


Eu tava junto com os macacos na caverna
Eu bebi vinho com as mulheres na taberna
E quando a pedra despencou da ribanceira
Eu também quebrei a perna
Eu também
Eu fui testemunha do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi brilhar no céu
E praquele que provar que eu tô mentindo
Eu tiro o meu chapéu


Eu nasci há dez mil anos atrás
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais


http://www.youtube.com/watch?v=3j2x29Lymtc

Tenho muitas coisas legais pra dizer, mas... Quero fazer diferente hoje. Como meus queridos leitores sempre contam histórias bacanas em toda nova postagem, quero que vocês façam os comentários dessa canção: O que sentem ao ouvi-la? Gostam? Não gostam? Há lembranças? O que acham do clipe? É um exercício diferente, vamos lá, participem, comentem, narrem histórias de outras canções de Raul Seixas, contem-me até se não gostam do som dele, vocês não serão condenados por isso, garanto.  Quero todo mundo construindo o blog comigo!


Pra vocês, eu tiro o meu chapéu!


Um beijo!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

“Da manga-rosa quero o gosto e o sumo...”


Meus queridos leitores, desculpem-me pela demora do post, fim de semestre aperta bastante a gente, não dá tempo nem de respirar... Finalmente hoje consegui esse tempinho e voltei para o blog. Estava com saudades!

Voltei com uma música bastante alegre que eu adoro e sei que muitos de meus leitores também gostam muito:  “Tropicana”, do grande Alceu Valença, lançada em 1982. Descobri que o nome da canção é “Tropicana” e não “Morena tropicana” como sempre acreditei que fosse... Pesquisa é tudo nessa vida!

Tropicana

Da manga-rosa quero o gosto e o sumo
Melão maduro, sapoti, juá
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu, cajá

Pele macia é carne de caju
Saliva doce, doce mel, mel de uruçu
Linda morena
Fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vou te desfrutar
Linda morena
Fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vem me desfrutar

Morena tropicana, eu quero teu sabor, oi, oi, oi, oi
Morena tropicana, eu quero teu sabor, oi, oi, oi, oi


Esse post nasceu por sugestão do meu pai. Sábado passado estávamos em casa e colocamos o “DVD Alceu Valença – Ao Vivo, Em Todos Os Sentidos”. Papai me disse que essa canção deveria estar no blog. E deveria mesmo! Cá está ela, pai, sua sugestão foi ótima!

O vídeo que coloquei pra vocês acompanharem é do DVD. A música fica muito mais alegre nessa versão, pois Alceu Valença brinca com a plateia, acelera a música e faz improviso. Incendeia todo mundo! Eu me arrepio quando vejo, dá vontade de pular pra dentro da tela e ir dançar ao comando do mestre pernambucano. Vale MUITO à pena vocês conferirem!

Na música há muitas imagens de sabores tipicamente nordestinos. (Quem me acompanha aqui no blog já sabe do meu grau de identificação com o Nordeste). Levantei um pequeno glossário pra vocês entenderem o que são algumas dessas imagens e sabores – exóticos e deliciosos.

Manga-rosa: “manga de boa qualidade, perfumada e de casca rosada” (Há outro significado para manga-rosa, mas definitivamente ele não cabe por aqui...)
Sapoti: “fruto de árvore tropical bastante adocicado”
Juá: “fruto do juazeiro, árvore típica da caatinga e do cerrado, que possui copa extensa”
Umbu: “fruto azedo” (AMO doce de umbu, ele é verde escuro, lindo e saboroso... Ai, que saudade da Bahia!)
Cajá: “fruto da árvore cajazeira, árvore que pode atingir 25 metros de altura”
Uruçu: “nome vulgar de uma espécie de abelha”
Cana-caiana: “uma das espécies da cana de açúcar”

Essa “morena tropicana” me remeteu à “Iracema”, romance de 1865, escrito pelo grande José de Alencar, não tanto pela proximidade da história, mas sim pela descrição bastante doce de uma mulher. “Iracema, a virgem dos lábios de mel”. E por falar em mel, Alencar e Alceu utilizam nomes vulgares para designar abelhas: em “Iracema” aparece “jati”. Em “Tropicana”, “uruçu.” Além de doce e bela, nossa “morena tropicana” deve ser desfrutada, conhecida de maneira profunda, para desabrochar. Sim, rapidamente associamos ao desejo carnal. Mas podemos fugir do óbvio, sempre.

Por que não pensamos também na personalidade da morena, em sua alma, que, para crescer, precisa desabrochar aos olhos do mundo e conhecer sua terra e as coisas típicas às quais foi comparada? Confesso que nunca havia feito essa leitura da canção, mas me parece razoável enxergar além das ideias claras e prontas, principalmente quando se trata de Alceu Valença. As ideias surgem quando produzimos, então, elas se me apresentam quando escrevo. Não tenho pretensão alguma de “bater o martelo” e dizer que foi essa a ideia que o compositor quis nos passar, muito menos de negar o óbvio, o desejo físico pela mulher. Como aqui é meu espaço – e de vocês também – para criar, posso especular, simplesmente. Fica sendo apenas uma nova sugestão de leitura e entendimento. Estejam à vontade pra discordar de mim!

Alceu Valença é um brilhante compositor que faz parte da minha vida desde que me entendo por gente, graças a meus pais, que sempre escutaram suas canções. Aliás, eles têm uma história bastante interessante com essa canção. Pai, mãe, por que não nos contam? Eu já a conheço, mas meus leitores não. Aproveitem o espaço e compartilhem com a gente!

Um beijo bem saboroso pra todos vocês!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

"Me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando..."

Oi, leitores queridos!

Consegui arrumar um tempinho no meio dessa loucura de final de semestre pra escrever aqui no blog. Na verdade, esse blog virou uma terapia pra mim, um escape... Que eu amo! Hoje estou especialmente feliz, passamos das mil visualizações de página. Sim, leitores, "passamos"! Graças a vocês, que me acompanham, o blog atingiu o feito em pouquíssimo tempo. Muito obrigada!

Hoje, dia seis de junho, véspera do feriado de Corpus Christi, trago a vocês uma música emocionante. Logo mais estarei em casa com os meus, irmãos e cachorros, então consigo falar de chegadas e partidas numa boa. Trata-se de "Encontros e despedidas", composição de Milton Nascimento e Fernando Brant, de 1985, lançada num disco homônimo. Milton e Brant já estão virando figurinhas carimbadas por aqui, perceberam? Também, quem mandou criarem composições excepcionais? Vamos à letra e ao link do vídeo, colocarei a versão contida no DVD de Maria Rita, que acho mais bonita, mas no Youtube vocês conseguem ver a original, com o grande Milton cantando.

Encontros e Despedidas

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar, tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir

São só dois lados da mesma viagem
O  trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação é a vida
desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...


Ish, gente, nem comecei a escrever de verdade e já estou chorando... Ô música linda! Céci, minha irmã e melhor amiga, já havia me sugerido a canção, mas eu guardei pra hoje, véspera de feriado, encontros e despedidas. Eu estou essa noite aqui em São Paulo, mas contando as horas pra ir pra casa, faz algum tempo que não vou e estou com muitas saudades.

Quer coisa mais alegre do que saber que alguém "está pra chegar"? Um amigo, um parente, um amor... É uma ansiedade tão gostosa! E quando a gente vê a pessoa ali, na nossa frente, que alegria! Tudo se transforma em festa! 
Ao mesmo tempo, é tão triste é a partida dessa pessoa... Enfrentaremos isso mais uma vez nesse domingo. Dá um aperto, não dá? Domingo, pra mim, é mais triste por esse motivo, é cruel partir e deixar a família pra trás. Como minha mãe sempre diz, "domingo é um dia morto". Inconscientemente, talvez por isso, há um ano eu me matriculo nas disciplinas da faculdade segunda à noite, e não de manhã. Assim não tenho que "matar o domingo" do pessoal de casa. Chegar aqui em Sampa na segunda é mais fácil pra mim e pra minha família, afinal, somos obrigados a entrar no ritmo da semana, ela já começou.

Essa música tem um sabor especial pra mim também por outro motivo. Minha família tem a tradição de se reunir a cada dois, três anos, pra celebrarmos o reencontro. Assim conhecemos a nova geração e saudamos a antiga. Num desses encontros, da Família Spínola Costa, realizado na Bahia, em 2005, essa foi a "música-tema". Na abertura oficial cantamos essa canção. Emoção à flor da pele! Ela tem tudo a ver com a alma e lógica do Encontro: ansiedade, euforia... Mais tarde, tristeza, despedida. A vida segue...

E como essa canção fala da vida! A meu ver, é uma belíssima metáfora para a vida. Vida, alegria, experiência, partida, morte. Por desagradável que seja, não podemos escapar da partida... Se pararmos pra analisar sob esse prisma, veremos que "são só dois lados da mesma viagem". E nunca sabemos a hora da partida... Ou da chegada. Mas cá estamos, vivendo. Mesmo sem estarmos preparados, estamos prontos pra tudo, até pro "elemento-surpresa" que a vida traz. Espero que sempre sejam surpresas boas!

Espero que as minhas reflexões sejam úteis pra vocês. Encerro por aqui, vou pra casa amanhã cedo (feliz da vida e cheia de saudades dos meus) e ainda não arrumei minha mala, cá pra nós, numa viagem, pra mim é essa a pior parte!

Um beijo! E que cada um de vocês tenha um excelente feriado!

terça-feira, 5 de junho de 2012

"Dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão"

Leitores queridos, hoje quero convidá-los a fazer comigo uma viagem pela história, geografia  do nosso país e por muitas lembranças pessoais. Vamos?


A música que escolhi pra comentar chama-se "Sobradinho", composição dos anos 70 de uma dupla pela qual sou apaixonada: Sá e Guarabyra. Como de costume, primeiro letra, depois endereço do vídeo no Youtube.


Sobradinho


O homem chega 
já desfaz a natureza
tira gente, põe represa
diz que tudo vai mudar


O São Francisco
lá pra cima da Bahia
diz que dia menos dia
vai sumir bem devagar


E passo a passo 
vai cumprindo a profecia
do beato que dizia 
que o sertão ia alagar


O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão
Vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão


Adeus, Remanso
Casa Nova, Sento-Sé
Adeus, Pilão Arcado
Vem o rio te engolir


Debaixo d'água
lá se vai a vida inteira
por cima da cachoeira
o Gaiola vai subir


Vai ter barragem
no salto do Sobradinho
o povo vai se embora
com medo de se afogar



O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão
Vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia 
O mar também vire sertão


Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho,
Adeus, adeus, adeus

http://www.youtube.com/watch?v=8ERBwtuaYmY

O endereço do vídeo não é de qualquer vídeo. É a última faixa do DVD "Outra vez na estrada", Sá, Rodrix e Guarabyra. Zé Rodrix é grande parceiro da dupla, deixou-a mas retornou anos mais tarde, o que dá maior sabor às composições.


Já que tenho uma relação bastante sincera com meus leitores, confesso a vocês que essa não é uma canção tão fácil de comentar... Justamente porque tenho muitas coisas para lhes contar! E isso tudo em meio a uma grande emoção.


Começo pela história/geografia retratadas na música. Sobradinho é uma cidade da Bahia, assim como Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado. Na década de 70 foi construída a Hidrelétrica de Sobradinho. Seu lago artificial inundou a área urbana das cidades acima citadas. 
O beato-profeta citado no poema é uma clara alusão a Antônio Conselheiro, líder do arraial de Canudos, vilarejo construído na Bahia no final do século XIX, mas dizimado pelas forças do Exército da República, na conhecida Guerra de Canudos, guerra apresentada em detalhes no livro "Os sertões", de Euclides da Cunha. Conselheiro foi tido como louco e morto pelo Exército brasileiro. Ele previu que o sertão viraria mar. E não errou sua profecia.


Agora, minhas lembranças! Sobradinho é uma canção que sempre gostei. Mas eu não sabia seu nome. Eu me lembro que eu e minha irmã queríamos ouvi-la, pegávamos os CDs dos meus pais e procurávamos o nome pelo verso do refrão. Antes de conhecer a história da música numa aula de geografia, pra mim era "o sertão vai virar mar" o nome da canção. Claro que nunca achei nenhuma faixa com esse nome! Depois de conhecer seu verdadeiro nome, sua história, soube que essa canção já foi tema de questões do vestibular da Fuvest. Uma das perguntas era: "Qual o nome da música?" Olha só, eu teria grandes chances de errar... Seria muito mais fácil ter perguntado pros meus pais, concordo. Mas o sabor de "descobrir" Sobradinho... Ah, esse eu guardo comigo! E jamais me esquecerei de seu nome, nem de sua história. Outra coisa que descobri nessa canção foi o significado de Gaiola: É uma embarcação fluvial. Depois que recorri ao dicionário, o verso: "o Gaiola vai subir" fez mais sentido!


Sá, Rodrix e Guarabyra fizeram parte do cenário musical do país principalmente nas décadas de 70 e 80. Foram os criadores do chamado "rock rural", do campo para o mundo. Sucessos como "Dona", "Espanhola", "Caçador de mim", "Casa no campo", "Blue riviera", "Jesus numa moto", "Mestre Jonas", "Roque Santeiro" são composições que estão imortalizadas no repertório dessas três estrelas da música nacional. Cada uma delas renderia um belo post. Concorda, leitor? Pensarei a respeito.


Mas uma dessas estrelas se apagou no ano de 2009. Zé Rodrix desencarnou, deixando muitas saudades a seus fãs e uma vida repleta de sucessos. É esse fato que guardarei para sempre na memória. Após o falecimento de seu ídolo, meu pai colocou esse DVD pra gente ver em casa e... Chorou! Meu Deus, pouquíssimas vezes vi meu pai chorar daquela maneira. Um choro doído, cheio de saudade. Foi então que percebi o quanto ele era fã do trio. Com certeza ele também se lembrou da época em que escutava essas lindas composições com seus primos, minha mãe... Nossa, eu que não era nem nascida, já estou aqui, toda nostálgica! Bons tempos, sem dúvida nenhuma!
Incrível a capacidade que uma canção tem de tocar fundo a nossa alma. Sobradinho, não só por ser uma canção bastante alegre, até  pelo caráter de denúncia social que possui, mexe comigo de um jeito bem especial.


O homem evolui, mas a história se repete... A Usina de Belo Monte está aí, sua barragem principal sendo construída no rio Xingu.  Assistiremos passivamente nossas florestas virarem mar? E como ficam os índios das comunidades locais? Afinal, o progresso desmedido vale o sacrifício? Deixo essas questões finais pra vocês refletirem.




Muitos beijos!

sábado, 2 de junho de 2012

"E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal"

Boa tarde, queridos leitores!


Quero levá-los comigo a uma viagem a Minas Gerais, com a banda 14 Bis, Samuel Rosa, do Skank, banda que amo, e o grandiosíssimo Milton Nascimento, nascido carioca, mas mineiro de coração.


Por que tantos compositores e intérpretes apareceram por aqui? Porque a origem musical deles é a mesma!  Já já conto a vocês. Primeiro colocarei a letra e o link do vídeo de uma das músicas mais doces que eu já ouvi: "Bola de meia, bola de gude", de Milton Nascimento e Fernando Brant, de 1980.

Bola de meia, bola de gude



Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
O sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra 
o menino me dá a mão


E me fala de coisas bonitas 
que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver
como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal


Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança 
o menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão



E me fala de coisas bonitas 
que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver
como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal


Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração

Toda vez que o adulto balança
ele vem pra me dar a mão

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança 
o menino me dá a mão



E me fala de coisas bonitas 
que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero viver
como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal


http://www.youtube.com/watch?v=My_OsqkDSjs



Skank, 14 Bis, composições do Milton... Todas elas mineiras, seja da capital, Belo Horizonte, seja do interior. Terrinha boa, sô! Também tenho uma grande relação com Minas, boa parte de minha família é de lá. Minha avó materna morou em Montes Claros, norte do estado, por muitos e muitos anos. Saudades, vó Su! Meus tios e primos vivem no estado mineiro até hoje. Por motivos de trabalho, minha mãe veio pra São Paulo e por aqui criou a mim e a meus irmãos. Meu pai já morava por aqui. Mas quando pai e mãe vão passear em Minas, os dois ficam muito felizes! Eles voltam a ter contato com a família e com a terra, já que passam dias na roça, lugar que tanto adoram!


Para criar esse post, eu me baseei na versão do 14 Bis e Samuel Rosa, versão essa que fez parte da novela "Coração de Estudante", Rede Globo, 2002. Mas o link que coloquei aqui pra vocês acompanharem é de outra versão, de um show de Milton Nascimento. (A letra muda um pouquinho...). Coloquei o link desse show por simplesmente achar incrível - e diferente! A música é executada em maracatu, ritmo pernambucano delicioso! É interessante ouvir uma música tipicamente mineira numa roupagem diferente, tenho a impressão de que a canção se torna mais forte! Confiram! 


Essa canção é tão linda e pura.... Tem a "cara" de Minas: A criançada nas ruas pacatas, correndo e gritando pra lá e pra cá... No meio de todo esse alvoroço, as brincadeiras: bola de gude, ciranda de roda, futebol com bola de meia, amarelinha, pula-corda... Essas brincadeiras acontecem em outras cidades e em outros estados, claro! Mas me parece que combinam bastante com o "jeitin" mineiro, interior pacato, lanche da tarde na casa da avó com comidas deliciosas, feitas por ela: Bolo de fubá, bolo de milho, pão de queijo, leite quente com café... Como é gostosa a infância no interior!


Além desse universo infantil das brincadeiras, o menino, o moleque que mora nos nossos corações também nos remete à sua pureza: É ele que não nos deixa esquecer das coisas bonitas do mundo: "amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor". É ele que está sempre certo, mesmo dentro de sua meninice. Acho que devíamos dar mais ouvidos a ele, afinal, a criança é muito mais sincera que nós, adultos! O convívio com os "amiguinhos" não as torna competitivas, muito pelo contrário, a meu ver. Elas aprendem a cuidar do próximo, na maioria das vezes. E é simples assim! Uma vez, minha querida amiga Carol me disse uma frase que jamais esqueci: "Gente adulta é complicada". Sim, é complicada e complica! Deixamos nossa simplicidade esquecida na infância. 

Nos dias de hoje, extremamente competitivos, em que cada um quer ter seu lugar ao sol e a qualquer custo, parece ser muito mais simples "passar a perna no outro". O ser humano consegue trair com uma facilidade incrível o seu semelhante. Em relacionamentos amorosos, profissionais, amizades. Hoje parece mesmo que aceitamos "qualquer sacanagem ser coisa normal". A palavra decepção tornou-se parte de nosso vocabulário. Isso é tão real que já não é mais decepção decepcionar-se com alguém. Triste, não acham? Infelizmente, esta foi uma constatação.


Será mesmo tão difícil dar voz ao nosso menino, ao nosso moleque? Acredito que poderíamos tentar fazer isso mais vezes... Ele tem muito a nos ensinar!


Beijos a cada leitor que acompanha o meu blog. É graças a você que ele está acontecendo!