sexta-feira, 15 de junho de 2012

“Da manga-rosa quero o gosto e o sumo...”


Meus queridos leitores, desculpem-me pela demora do post, fim de semestre aperta bastante a gente, não dá tempo nem de respirar... Finalmente hoje consegui esse tempinho e voltei para o blog. Estava com saudades!

Voltei com uma música bastante alegre que eu adoro e sei que muitos de meus leitores também gostam muito:  “Tropicana”, do grande Alceu Valença, lançada em 1982. Descobri que o nome da canção é “Tropicana” e não “Morena tropicana” como sempre acreditei que fosse... Pesquisa é tudo nessa vida!

Tropicana

Da manga-rosa quero o gosto e o sumo
Melão maduro, sapoti, juá
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu, cajá

Pele macia é carne de caju
Saliva doce, doce mel, mel de uruçu
Linda morena
Fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vou te desfrutar
Linda morena
Fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vem me desfrutar

Morena tropicana, eu quero teu sabor, oi, oi, oi, oi
Morena tropicana, eu quero teu sabor, oi, oi, oi, oi


Esse post nasceu por sugestão do meu pai. Sábado passado estávamos em casa e colocamos o “DVD Alceu Valença – Ao Vivo, Em Todos Os Sentidos”. Papai me disse que essa canção deveria estar no blog. E deveria mesmo! Cá está ela, pai, sua sugestão foi ótima!

O vídeo que coloquei pra vocês acompanharem é do DVD. A música fica muito mais alegre nessa versão, pois Alceu Valença brinca com a plateia, acelera a música e faz improviso. Incendeia todo mundo! Eu me arrepio quando vejo, dá vontade de pular pra dentro da tela e ir dançar ao comando do mestre pernambucano. Vale MUITO à pena vocês conferirem!

Na música há muitas imagens de sabores tipicamente nordestinos. (Quem me acompanha aqui no blog já sabe do meu grau de identificação com o Nordeste). Levantei um pequeno glossário pra vocês entenderem o que são algumas dessas imagens e sabores – exóticos e deliciosos.

Manga-rosa: “manga de boa qualidade, perfumada e de casca rosada” (Há outro significado para manga-rosa, mas definitivamente ele não cabe por aqui...)
Sapoti: “fruto de árvore tropical bastante adocicado”
Juá: “fruto do juazeiro, árvore típica da caatinga e do cerrado, que possui copa extensa”
Umbu: “fruto azedo” (AMO doce de umbu, ele é verde escuro, lindo e saboroso... Ai, que saudade da Bahia!)
Cajá: “fruto da árvore cajazeira, árvore que pode atingir 25 metros de altura”
Uruçu: “nome vulgar de uma espécie de abelha”
Cana-caiana: “uma das espécies da cana de açúcar”

Essa “morena tropicana” me remeteu à “Iracema”, romance de 1865, escrito pelo grande José de Alencar, não tanto pela proximidade da história, mas sim pela descrição bastante doce de uma mulher. “Iracema, a virgem dos lábios de mel”. E por falar em mel, Alencar e Alceu utilizam nomes vulgares para designar abelhas: em “Iracema” aparece “jati”. Em “Tropicana”, “uruçu.” Além de doce e bela, nossa “morena tropicana” deve ser desfrutada, conhecida de maneira profunda, para desabrochar. Sim, rapidamente associamos ao desejo carnal. Mas podemos fugir do óbvio, sempre.

Por que não pensamos também na personalidade da morena, em sua alma, que, para crescer, precisa desabrochar aos olhos do mundo e conhecer sua terra e as coisas típicas às quais foi comparada? Confesso que nunca havia feito essa leitura da canção, mas me parece razoável enxergar além das ideias claras e prontas, principalmente quando se trata de Alceu Valença. As ideias surgem quando produzimos, então, elas se me apresentam quando escrevo. Não tenho pretensão alguma de “bater o martelo” e dizer que foi essa a ideia que o compositor quis nos passar, muito menos de negar o óbvio, o desejo físico pela mulher. Como aqui é meu espaço – e de vocês também – para criar, posso especular, simplesmente. Fica sendo apenas uma nova sugestão de leitura e entendimento. Estejam à vontade pra discordar de mim!

Alceu Valença é um brilhante compositor que faz parte da minha vida desde que me entendo por gente, graças a meus pais, que sempre escutaram suas canções. Aliás, eles têm uma história bastante interessante com essa canção. Pai, mãe, por que não nos contam? Eu já a conheço, mas meus leitores não. Aproveitem o espaço e compartilhem com a gente!

Um beijo bem saboroso pra todos vocês!

13 comentários:

  1. Essa música é uma delíciaaa, em todos os sentidos: ritmo, letra, e a fome que dá com tantas guloseimas (mesmo eu não comendo, por exemplo, manga-rosa, nem melão, nem jaboticaba, nem umbu etc... kkkkkkkk). Alceu é gênio, e o melhor de tudo, gênio popular, que canta o Brasil e suas brasilidades... Vc já pensou em estudar semiótica das canções? Para mim, vc já tá treinando isso por aqui há tempos! Quem sabe não rola uma identificação? ;) Beijos, amore!

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    1. Mas Dani, do jeito que você falou, sobrou só a cana-caiana!!! Jabuticaba também não, amiga? Tão gostosinhooo ^^ Mas delícia mesmo é a composição do Alceu!!
      VOCÊ ADIVINHOU MEUS PLANOS, DANI! O QUE MAIS QUERO ESTUDAR NA LETRAS É SEMIÓTICA DENTRO DA MÚSICA!!! Semestre que vem, vou pegar matéria com o professor e ver se dá pra começar uma I.C. Já passou da hora! A identificação é bem clara, eu diria.
      Obrigada pelo conselho!

      Um beijão!

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    2. A caninha a gnt não nega, né?! hahahaha olha só, isso é bem coisa de gêmeas mesmo, hein?! Que bom que vc tá se encontrando!!! Vai com tudo que é sucesso, amore!!! :

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    3. Ah, a caninha é parte da família! HAHAHAHAHAHA

      Claro que não escrevo pensando linguisticamente, mesmo pq eu tenho pouco conhecimento teórico a respeito - ainda. Mas esse assunto sempre mexeu comigo e estudá-lo na universidade vai me dar mais ânimo na reta final.

      Um beijo, gêmea! ;)

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  2. Beijinho sabor manga kkkkkkkkkkkkkkk essa versão do vídeo realmente é a mais empolgante, não tem como ficar parada... amo Alceu Valença, acho o show divertidíssimo, quem me dera poder estar em algum show dele ao vivo, ainda terei esse prazer...=)Você falando dessa tal mulher... me remeteu a Gabriela de Jorge Amado, mesmo não tendo nada a ver.. mas enfim, é mulher... e bem típica do nordeste. Pai Mãe tbm quero ler a história.. =))

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    1. Você nos trouxe outro ótimo exemplo, Céci: "Gabriela cravo e canela", morena linda e tipicamente nordestina. Seu comentário só enriqueceu o post, muito bom você fazer essas associações, sinal de que o blog está lhe ajudando a expandir o pensamento.

      Um beijo grande, sabor manga! ;)

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  3. um dia vc posta sobre a minha música... diabo loro kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  4. Ao contrário da Dani, eu adoro essas frutas, principalmente a manga-rosa. Resumindo, essa música é uma delícia... Suas escolhas continuam sendo ótimas... Bjussss, até o próximo post. rs

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    1. Oii tia, que saudade de você!
      Sabores nordestinos são muito mais gostosos, concordo.
      Espero que você sempre curta os meus posts.

      Beijo grande!

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  5. Mãe Lia: - Lara, você não tem idéia do que é uma caipira, deslumbrada com São Paulo, cidade, o Anhembí, e ver de perto, um cara pequeno, uma pimenta malagueta e um ritimo arrebatador. Com tudo isto junto, um coração transbordando de amor, o físico exalando desejo, num ambiente completamente inusitado.
    Alceu Valença...Ah! Alceu! Como foi bonita áquela noite! As suas trocas de roupas, o seu forró, contagiaram uma platéia inflamada, da qual a caipira aqui, fazia parte. Subimos nas cadeiras, pulamos, aplaudimos e nos reverenciamos. Foi fantástico!
    Não foi suficiente ouvirmos Tropicana. Culminou com Como dois animais.
    Particularmente, adoro Alceu.
    Falando do glossário:
    O juazeiro tem um significado especial, pelo menos pra min. Na Lagoa Nova, havia um juazeiro na frente da casa. Uma raiz bem grande, para fora da terra. O meu avô, consequentemente, seu bisavô Agripino, deitava, sempre após o almoço, sob o juazeiro e colocava a sua cabeça no meu colo, pra eu tirar os cravos do nariz dele, inundados por aquela sombra da copa gigantesca daquela árvore. Ali, coria uma simbiose de amor, afeto, cumplicidade e respeito. O nariz dele ficava vermelho e grande. Isto era todos os dias.....!
    Foram nesses encontros que aprendi sobre o canto da Cauã, o "fogo pagô", o tamanho da melância, quando que a abóbora deveria ser retirada do pé, se o feijão estava bom para ser colhido, se a chuva vai chegar, se não vai chover, etc...
    Umbu, você só gosta do docê. Nós gostamos da fruta colhida no pé. Uma vez, a seca na Bahia foi tão grande que não tivemos a safra desse delicioso fruto. Apenas num roçado, havia um pé, com folhas ralas, alguns frutos. Fomos Lô,eu e algumas pessoas mais (não me lembro das outras) e invadimos o roçado de "Mané do Saco", rsrs. Nunca me deliciei tanto com aqueles umbus, grandes, poucos, mas, excessivamentes doces. Lembra disse Lô?
    Cajá, meu primeiro contato com esta fruta, foi em Montes Claros. É deliciosa. Marília veio nos visitar há algum tempo, e trouxe meia duzia desta delícia. Depois disto, nunca mais.
    Não me fale em cana. Vivemos cercados delas e o meu quintal que o diga.
    Lara, a analogia que Alceu fêz entre estas frutas e a mulher, devo dizer que ele foi feliz. Nordeste, Brasil. Esqueceu da Europa (maçã, pêra, uva, etc.) e deu o toque tropical de sabor: frutas maravilhosas e mulheres que chamam a atenção de muita gente.
    Parabéns minha filha! Até a próxima....... beijos.

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  6. Mãe, neste momento estou aqui fazendo mais um trabalho da faculdade. Em minha pausa, vim dar uma conferida no blog... Que delícia me deparar com seu depoimento!
    Nossa, agora você foi realmente lá atrás, não é? Lembrou-se do contato com seu avô e tios e até do vizinho de quem "emprestaram" umbu... Você realmente tem muitas histórias pra contar!
    Esse show no Anhembi deve ter sido maravilhoso! Você citou outra música dele que eu adoro, "Como dois animais". Tê-la ouvido em pleno Anhembi... Quanto privilégio!
    Afinal de contas é no nosso Brasil que dá coisa boa!

    Beijo grande, obrigada por compartilhar suas experiências conosco!

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